ANSIEDADE DE INFORMAÇÃO: UMA QUESTÃO REAL 
                                
Tipo de texto: Artigo de Opinião                        

Publico alvo: Estudantes e pesquisadores ligado à ciência da Informação; Bibliotecários, Psicólogos, Pais, encarregados de educação, jovens dos 14-35 anos de idade, profissionais de informação, Administradores públicos e governamentais.

Data da publicação: 02 de Junho de 2022

 [A Ansiedade de informação, confesso, levou-me a procrastinar, baixa auto-estima e outros sentimentos paralelos a estes] 


Setembro Amarelo: A Ansiedade de Informação e a Prevenção do Suicídio


O mês de setembro é celebrado, em muitos países, como o mês de combate e prevenção ao suicídio, denominado 'SETEMBRO AMARELO'; uma cor que representa VIDA E ALEGRIA. Em especial, o dia 10, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, é uma data fundamental para conscientizar a sociedade sobre a importância de cuidar da saúde mental e prevenir o suicídio, que é uma das principais causas de morte no mundo.


Criado em 2003 pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP) em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o objetivo do movimento é unir esforços globais para aumentar a conscientização e promover ações efetivas de prevenção sobre este mal.


Creio fielmente que, como diz o adágio popular, "A melhor forma de desestigmatizar uma coisa é falando sobre ela". Segundo relatórios oficiais, morrem todos os anos, em média, mais de 1.000.000 (um milhão) de pessoas por suicídio no mundo e ocorrem entre 10 a 20 milhões de tentativas de suicídio. A Organização Mundial da Saúde estima que o suicídio é a 13ª causa de morte no mundo, sendo uma das principais causas de morte de adolescentes e adultos até aos 35 anos. E, segundo a ONU, os números tendem a aumentar, estimando que, a este ritmo, até 2030, o suicídio esteja no top 5 dos maiores causadores de mortes no mundo. Neste contexto, uma questão ressoa em tom ensurdecedor: Por que isso acontece? Ou seja, por que alguém, aparentemente "bem", mergulha nas diferentes camadas desta doença até, infelizmente, cometer o suicídio?


Na tentativa de responder a essa questão, especialistas e profissionais de diferentes áreas descrevem este facto de forma multidisciplinar. Enquanto académico, cursando ciências da informação, entendo que uma das principais causas de ansiedade, depressão e, concomitantemente, o suicídio é o fluxo exorbitante e "incontrolável" de informações que (in)felizmente estamos vivendo. A produção e circulação de informação a uma velocidade nunca antes vista ou imaginada, provocada especialmente pelo advento das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), tem um impacto profundo na saúde mental das pessoas.


O pesquisador Richard Saul Wurman designa este fenómeno como "Ansiedade de Informação", enfatizando que o excesso de informações pode levar a um estado de stress constante, pois a dificuldade de processar e lidar com a avalanche de dados que recebemos diariamente pode contribuir significativamente para o desenvolvimento de transtornos mentais, como a depressão, que, em casos extremos, leva ao suicídio.


Durante a produção do meu livro, 'Os 10 Mandamentos das Ciências da Informação', experimentei em primeira mão a ansiedade de informação. Em vários momentos, sentia que sempre faltava algo mais a saber para terminar o trabalho; foi durante muito tempo um loop (ciclo sem fim). Essa sensação constante de insuficiência gerava uma ansiedade considerável, o que, negativamente, confesso, levou à procrastinação, baixa auto-estima e outros sentimentos paralelos.


A ansiedade de informação não é apenas um problema individual, mas um fenómeno social que afeta a todos nós. Vivemos numa era onde a informação está disponível em abundância, mas a capacidade de filtrá-la e utilizá-la de forma eficaz é limitada. A sobrecarga informacional pode levar a uma sensação de paralisia, onde a quantidade de informações disponíveis impede a tomada de decisões claras e racionais. Isso pode resultar em stress e, eventualmente, em problemas de saúde mental.


A celebração do Setembro Amarelo é uma oportunidade para refletirmos sobre as causas subjacentes do suicídio e como podemos preveni-lo. A ansiedade de informação é uma dessas causas que merece atenção. Deste modo, é crucial que, ao falarmos sobre a prevenção do suicídio, também abordemos a necessidade de gerenciar melhor o fluxo de informações a que estamos expostos diariamente. A educação e a conscientização sobre a ansiedade de informação são passos essenciais nesse processo. Precisamos, enquanto sociedade, desenvolver estratégias para lidar com a sobrecarga informacional. Isso inclui a promoção de habilidades de literacia informacional em diversos aspectos, que ajudam as pessoas a avaliar e utilizar a informação de maneira crítica e eficaz. Além disso, é importante criar espaços de desconexão, onde as pessoas possam se afastar do fluxo constante de informações e se reconectar consigo mesmas e com os outros de maneira significativa. Neste último aspecto, recomendo agendar, uma vez a cada mês, 24 horas totalmente desligado das redes sociais. Isso fará toda a diferença (positiva) à nossa saúde e bem-estar. 


A saúde mental deve ser uma prioridade em todas as esferas da vida. Instituições educacionais, locais de trabalho e comunidades, como mencionado anteriormente, precisam implementar políticas e práticas que promovam o bem-estar mental e reduzam a ansiedade de informação.


A colaboração entre profissionais de saúde mental, educadores, tecnólogos e formuladores de políticas é essencial para desenvolver abordagens integradas para enfrentar a ansiedade de informação e suas consequências. Ao celebrarmos o Setembro Amarelo, devemos nos comprometer a criar uma sociedade mais consciente e informada, onde a saúde mental é valorizada e protegida. Isso inclui reconhecer e abordar a ansiedade de informação como um factor significativo.


A prevenção do suicídio é uma responsabilidade coletiva. Todos nós temos um papel a desempenhar na criação de um ambiente que apoie a saúde mental e reduza os fatores de risco, como a ansiedade de informação. Em última análise, ao falar abertamente sobre a ansiedade de informação e suas implicações, podemos desestigmatizar o problema e promover uma cultura de cuidado e apoio mútuo. Juntos, podemos fazer a diferença na luta contra o suicídio e na promoção da vida e da alegria.


Texto de Adilson Alfredo Adão Dias, autor do livro 'Os 10 Mandamentos das Ciências da Informação'.

Última actualização, 30 de Setembro de 2024